DIFERENÇAS

By Blog Nathália Martins - 3:26 PM



Você queria que as coisas fossem apenas do seu jeito. Queria que a última palavra sempre saísse da sua boca, que cada encontro marcado fosse somente no lugar mais viável para você, que cada minutinho de atraso que excedesse o nosso limite proposto, fosse apenas da sua parte. Até a última mensagem de texto tinha que ser sua. Quem por diabos é encanado em “últimas coisas”? Esse era o seu problema.

 
O seu egoísmo só não falava mais alto porque você queria gritar mais que ele. E gritava. Você era o tipo de pessoa que com certeza, teria que falar as últimas e dramáticas palavras antes de morrer, enchia seu peito de ar e as recitava como quem dita uma lei. Só que essa lei, você não podia me prender por não cumprir. Também confesso que uma parte dessa culpa era minha, porque enquanto você ditava essas últimas palavras letra-por-letra para que todos entendessem, eu me calava. E quem cala, talvez conceda. Porque eu acabava te dando carta branca e você sempre retribuía com um cartão vermelho, mesmo sabendo que eu odiava essa cor e o significado dela. Mas ainda assim, mesmo com todas imperfeições que você tinha, eu te aceitava. E fazia isso porque era a única alternativa que me pertencia naquele momento. E juro que não conseguia me imaginar sem ela. Eu aceitava porque apesar da última palavra ser sempre sua, ela ainda era a única que eu queria ouvir no final do dia. Aceitava porque mesmo que o lugar fosse escolhido por você, eu gostava de pensar que ele era nosso, que ali a gente encontrava nosso ponto de paz e abrigava nossos desejos mais íntimos. A questão é que tudo era perfeito demais. Ou eu enganava a mim mesmo tentando acreditar que era. Porque sua vida era baseada nisso, num parque onde você se dava ao direito de levar quem quiser, se divertia o tempo suficiente pra fazer alguém gostar da viagem e depois simplesmente mandava embora e fechava as portas, como se elas nunca estivessem sido abertas. Mas de tanto eu tentar, insistir e bater o pé, os seus conceitos finalmente mudaram. Sua essência se perdeu em alguma parte de sua mente egoísta, e você já não pensava mais apenas em si. Porém, era tarde demais. E apesar de você ser fascinado em últimas coisas, na nossa breve história, foi eu quem recitei as últimas palavras e dei o último adeus. Confesso que você me ofereceu várias probabilidades para ficar. O problema, é que eu nunca gostei de exatas.
Autor: Pedro Pinheiro.

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